Pouco mais de um ano depois de romper com o irmão Cid Gomes, Ciro Gomes ensaia agora sua própria ruptura com o PDT , mas não por coerência política, nem por divergência ideológica legítima. A debandada de seu grupo, com o ex- prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio liderando a fila rumo ao União Brasil , revela um movimento há muito anunciado: o progressismo do cirismo ruiu, e o que resta é um amontoado de ressentimentos, vaidade e conveniência eleitoral.
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Com apenas 17 deputados federais e desempenho eleitoral decepcionante nas últimas eleições, o PDT caminha para um ponto de inflexão. Ou se consolida como linha auxiliar da base lulista, ou aposta em um rompimento conduzido por Ciro.
Setores ligados ao ex-governador enxergam na crise uma oportunidade. Com o ex presidente Jair Bolsonaro inelegível e a direita ainda em busca de um novo nome viável, Ciro sonha em se apresentar como alternativa “nacionalista” e “anti-establishment”.
Seu discurso anti-PT, com verniz moralista e retórica antipolítica, pode até atrair parte do eleitorado órfão do bolsonarismo.
Ciro não está apenas mudando de partido. Está desmontando, tijolo por tijolo, o legado que ajudou a erguer.
Sua trajetória - de ex-ministro de Itamar Franco e Lula a presidenciável de centro-esquerda - agora dá lugar a uma figura errática, que flerta com os setores mais retrógrados da política nacional.
Ao se juntar a deputados do PL e do União Brasil na Assembleia Legislativa do Ceará e declarar disposição para o “sacrifício” de disputar o governo, Ciro acena para um campo político que antes dizia combater.
O mesmo Ciro que escreveu livros, discursou em universidades e tentou se vender como alternativa técnica à polarização, agora ensaia falas que caberiam com facilidade em lives bolsonaristas.
O autointitulado “último idealista da política brasileira” se aproxima de setores que negam vacinas, contestam as urnas eletrônicas e defendem o desmonte do Estado. Difícil não enxergar nessa guinada uma rendição — ou pior: uma adesão estratégica e cínica.
Roberto Cláudio, até pouco tempo tido como sucessor natural, é o primeiro a migrar.
Outros seguirão. Mas fica a dúvida sobre com que base Ciro pretende se sustentar nesse novo campo.
O bolsonarismo já tem seus líderes e símbolos. O eleitorado progressista, que ainda via nele um resquício de esperança, sente-se traído.
O centro, por sua vez, não vê no ex-governador o equilíbrio necessário. Não há garantia de que exista espaço político para mais um ex-esquerdista convertido ao discurso da antipolítica.
Ciro Gomes já foi um dos políticos mais instigantes do país. Inteligente, intempestivo, profundo conhecedor da realidade brasileira. Mas nos últimos anos se perdeu em seu próprio labirinto de mágoas, ataques descontrolados e escolhas erráticas.
A saída do PDT é apenas o último ato de um roteiro melancólico: o fim de um projeto que poderia ter sido muito mais do que uma nota de rodapé na história recente do Brasil.
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